quarta-feira, 1 de maio de 2013

Fui ver "Os Mercenários"... E consegui!

Crítica publicado no jornal A Gazeta Grunhidora, em 2/2/2010. Por que publiquei só agora? Em primeiro lugar, não é da sua conta, palhaço. Em segundo lugar, porque eu quis.

Fui assistir a “Os Mercenários”. Sim, exatamente, aquele filme com o Silvestre Stalongue. Era um terrível sábado de sol, e resolvi deixar meu escritório empoeirado por um segundo enquanto Ismirino, meu fiel escudeiro, realizava a faxina semanal.

Havia muito tempo eu não imergia em uma sala escura e me deixava seduzir pela magia de um projetor de imagens na telona, então lá fui eu. Dirigi-me ao Cine Tonhão, na região central de Maldito Paulo (de santo essa cidade nojenta não tem nada). Mas, qual não foi minha surpresa ao descobrir que um incêndio havia consumido o prédio em 1975?

Perguntei então a um mendigo que passou a dormir naquele local abandonado onde eu poderia encontrar um cinematógrafo. Ele não sabia do que eu estava falando. Foi então que percebi que muita coisa devia ter mudado desde a última vez em que fui a uma sessão. Ah, a estréia de “Cidadão Kane”, que obra prima.


(- Essa não, estamos cercados por um batalhão armado até os dentes, e tudo o que temos para nos defender é essa lanterninha!
- Maldição, devíamos ter chamado Braddock Lewis!)

Andei por muito tempo até finalmente chegar a uma grande construção, com altas colunas, arcos, córdobas e poncius-pilatus. Era um desses malditos antros da modernidade e da aglomeração de tipinhos toscos. Sim, era um shopping. Descobri que havia um cinema no último andar e, então, subi por meio de um artefato muito engenhoso, chamado escada-rolante.

Chegando à bilheteria, uma fila monumental se extendia à minha frente, que descia as escadas, formava um caracol, pegava o elevador, subia pelas paredes, entrava na tubulação, pedia um sanduba no Burger King e lia um livro na Saraiva.

Nunca peguei uma fila em minha vida, e não seria aquela a primeira vez. Fiquei ao lado do vendedor e esperei alguém comprar um ingresso para “Os Mercenários”. O primeiro pediu para a sessão dublada, então apenas apliquei-lhe uma rasteira para que rolasse abaixo pela rampa de acesso a deficientes. O segundo comprou para a sessão que eu queria, então extraí-lhe o bilhete com um rápido movimento de mãos e um esguicho de desodorante em spray nos olhos.


(Sempre tem um cabeçudo para tapar a visão. Mas quem diabos usa um chapéu no cinema? Crédito da foto: Chapeleiro Maluco)



Entrei na sala, expulsei um simpático casal de adolescentes e ocupei duas poltronas para aguardar confortavelmente o início do filme. Foi então que vi algo que me fez rir pela primeira vez em 37 anos. À medida que se aproximava o início do longa, notei que o público que começava a entrar na sala era praticamente constituído por figuras que você só encontra em academias e em lojas de suplemento alimentar.

Eram vários tipos com camisas coladas, regatas, tatuados, cabelo em corte militar ou lambuzado em gel, aquele tipo de metrossexual enrustido ou praticantes de jiu jitsu. Todos, presumi, estavam ali para ver quantos supinos ainda precisariam fazer e quantas claras de ovo precisariam comer para se assemelharem com os atores que apareceriam na telona.

A certa altura, minha risada comedida adquiriu certo grau de histeria diante daquela invasão de aspirantes a Mister Universo da Penha, a ponto de eu não conseguir me conter, levantar, me dirigir a um daqueles patifes, apontar para a cara dele e expelir uma gargalhada descontrolada.

Resumindo a história, alguns desses jovens vieram para cima de mim revoltados. Como eu estava em menor número, precisei chamar dois amigos meus que nunca me deixam na mão: meu punho direito e meu cotovelo esquerdo. Sim, aqui estou eu sem um arranhão. Quanto ao filme, aí vai a única crítica que vale a pena ser lida: é legal.

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